Gerenciar configurações em projetos de software vai muito além de uma simples questão técnica — é algo que realmente faz diferença na maturidade da equipe e na eficiência do desenvolvimento.
Se você já trabalhou com repositórios cheios de serviços diferentes, sabe bem que decidir como implantar, versionar e coordenar tudo é o que separa um sistema tranquilo de um pesadelo de dependências quebradas.
Neste artigo, quero compartilhar com você algumas estratégias práticas para garantir que cada implantação seja consistente e rastreável. Além disso, vamos conversar sobre os desafios e como lidar quando precisamos gerenciar serviços de forma separada. Vamos nessa?
Controlando releases/versões
Um ponto que precisamos ter total clareza é que o git é um mecanismo eficiente de versionamento e é constituído por árvores de commits empilhados e ramificacados.
“Um branch no Git é simplesmente um ponteiro móvel para um desses commits.” (gitbook)
“O Git tem a habilidade de marcar pontos específicos na história como sendo importantes. Normalmente as pessoas usam essa funcionalidade para marcar pontos onde foram feitas releases (v1.0 e assim por diante).” (gitbook)
Atribuir uma versão ao repositório consiste em eleger um dos commits para dar uma label, um nome, mais especificamente: uma tag.
A tag determina qual commit (independente do branch) representa uma versão específica do repositóirio, e para nós representa uma versão dos serviços presentes nesse repositório.
Por que a gerência de configuração é fundamental em sistemas modernos?
Na era das aplicações distribuídas e arquiteturas complexas, manter o controle sobre o que é implantado em cada ambiente não é mais um diferencial, mas uma necessidade. A multiplicidade de serviços, bibliotecas e dependências em um projeto grande exige que as organizações adotem práticas robustas para gerenciar o ciclo de vida de seus ativos.
Duas abordagens principais surgem nesse contexto:
- Gerenciar um repositório único onde todos os serviços são versionados e implantados juntos.
- Dividir os serviços em repositórios independentes para controlar versões e implantações de forma separada.
Ambas as abordagens têm seus méritos e desafios. A escolha certa depende de fatores como o tamanho da equipe, a complexidade do sistema e a necessidade de escalabilidade. Este artigo analisa as vantagens, as práticas recomendadas e os cenários ideais para cada estratégia.
A propósito, não pense em escalabilidade apenas como capacidade de rodar várias instâncias de sua aplicação, mas pense na capacidade da empresa escalar, do projeto escalar, ou seja de terem mais clientes, mais demandas, mais devs, maior faturamento e também maior custo.
Monorepo: O poder do repositório centralizado
Quando todos os serviços de um sistema são mantidos em um único repositório, há uma premissa clara: sempre que uma nova versão for gerada, todos os componentes do repositório serão implantados juntos. Essa abordagem pode parecer simplista, mas oferece benefícios significativos, especialmente em sistemas de missão crítica.
1. Consistência garantida
Um dos maiores desafios em ambientes complexos é garantir que os diferentes módulos e serviços funcionem bem juntos. Ao versionar e implantar todos os componentes de todos os serviços ao mesmo tempo, eliminamos a possibilidade de incompatibilidades entre versões.
Exemplo: Imagine uma aplicação que possui um serviço de autenticação, um backend principal e um front-end. Se cada um desses componentes for atualizado independentemente, há o risco de o front-end chamar uma API que não existe mais no backend. Implantando tudo de uma vez, garantimos que o sistema como um todo está alinhado.
2. Governança centralizada
Gerenciar um único repositório simplifica o controle sobre versões, mudanças e auditorias. Cada versão do sistema mapeia diretamente para uma entrega rastreável.
Boas práticas para governança em repositórios centralizados:
- Use pipelines de CI/CD bem estruturados para garantir que cada alteração passe por testes rigorosos.
- Tagueie versões do repositório com convenções claras (ex.:
v2.3.0
), permitindo uma rastreabilidade direta entre o código e o sistema implantado. - Realize revisões de código rigorosas para garantir que alterações em diferentes partes do sistema sejam compatíveis.
3. Redução da complexidade de gerência
A gestão de dependências internas é muito mais simples quando todos os serviços estão no mesmo repositório. Não há necessidade de se preocupar com contratos entre módulos, já que o desenvolvimento e os testes ocorrem no mesmo ambiente.
Desafios e Soluções:
- Tempo de Build e Teste: Com muitos serviços e seus componentes no mesmo repositório, os pipelines de CI/CD podem levar mais tempo para concluir. Para mitigar isso, adote técnicas de cache, paralelismo e ferramentas de build incremental.
- Escalabilidade de Times: Times grandes podem enfrentar dificuldades em gerenciar um único repositório. Dividir responsabilidades por serviços e componentes e criar regras claras para commits e revisões ajuda a manter a organização.
A outra face da mesma moeda
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Robert C. Martin’s (aka Uncle Bob) nos apresenta o diagrama Components and Component Cohesion que podemos aplicar a essa situação.
- Agrupar para reuso gera como efeitos colaterais:
- Muitas releases desnecessárias de componentes não alterados.
- Muitos componentes para mudar.
- Agrupar para manutenção gera como efeitos colaterais:
- Muitas releases desnecessárias de componentes não alterados.
- Difícil de Reusar (Porque carrega consigo muitas coisas).
- Separar para evitar releases desnecessárias gera como efeitos colaterais:
- Difícil de Reusar (porque exite algum tipo de comunicação remota, ou estado compartilhado entre domínios)
- Muitos componentes para mudar.
A outra face da mesma moeda, é que SE QUEREMOS TER INDEPENDÊNCIA DOS NOSSOS SERVIÇOS
- para gerenciar versões independentes
- em tempos roadmaps independentes,
- com arquitetura e ciclo de deployments independentes,
temos de dividir em repositórios, criando um repositório para cada serviço, contendo todos os componentes do serviço. Tudo que precisa de uma autonomia extrema, precisa de independência extrema, e por isso passa o isolamento em um repositório próprio onde controlamos:
- Versão
- Ciclo de Vida
- Roadmap
- Arquitetura
- Stack e Tecnologias
E temos obviamente temos tradeoffs com essa decisão.
Multi-repo: Quando a separação é a melhor escolha
Apesar das vantagens de um repositório centralizado, existem muitos cenários em que gerenciar componentes de forma independente é uma premissa fundamental. Separar os serviços em repositórios distintos permite que eles sejam versionados e implantados individualmente, promovendo maior flexibilidade.
1. Controle granular de versões
Quando os serviços precisam evoluir em ritmos diferentes, a separação em repositórios independentes permite que cada um siga seu próprio ciclo de versionamento.
Exemplo: Um sistema de e-commerce com um serviço de carrinho de compras e outro de cálculo de frete pode ter equipes diferentes trabalhando em cada parte. Manter esses serviços separados permite que o time de frete lance uma nova versão sem esperar pelo time de carrinho.
2. Flexibilidade no ciclo de desenvolvimento
Com repositórios independentes, diferentes equipes podem trabalhar de forma autônoma, priorizando suas entregas sem impactar diretamente outras partes do sistema.
Boas práticas para independência de desenvolvimento:
- Use contratos explícitos, como APIs ou eventos de mensageria, para garantir a compatibilidade entre serviços.
- Implemente testes de contrato para verificar se mudanças em um serviço não quebram dependências externas.
- Adote ferramentas de gestão de pacotes (como NuGet para .NET) para versionar e distribuir bibliotecas reutilizáveis.
3. Resiliência e escalabilidade
A separação de serviço reduz o impacto de falhas e facilita a escalabilidade do sistema. Se um serviço apresentar problemas, ele pode ser corrigido e reimplantado sem afetar o restante do sistema.
Desafios e Soluções:
- Gestão de Dependências: Garantir que as versões corretas dos serviços sejam usadas pode ser desafiador. Automatize a gestão de dependências com ferramentas como gerenciadores de pacotes e utilize versionamento semântico.
- Coordenação entre Times: Sem uma comunicação clara, a autonomia pode levar a conflitos entre equipes. Estabeleça padrões para documentação e reuniões regulares de alinhamento.
Comparação entre abordagens
Critério | Repositório centralizado | Repositórios independentes |
---|---|---|
Consistência | Alta, garantida pela implantação única | Requer contratos explícitos entre módulos |
Governança | Centralizada | Distribuída |
Flexibilidade de Versões | Limitada | Alta |
Escalabilidade de Times | Limitada | Alta |
Complexidade de Gestão | Menor | Maior |
Conclusão: Qual estratégia é a melhor para o seu projeto?
A escolha entre gerenciar um único repositório ou dividir os serviços em repositórios independentes depende das características e objetivos do projeto.
Para sistemas onde consistência, rastreabilidade e governança são prioritárias — como sistemas financeiros ou de missão crítica —, um repositório centralizado pode ser a melhor escolha.
Por outro lado, para equipes que precisam de flexibilidade e autonomia, ou para sistemas distribuídos que crescem rapidamente, gerenciar repositórios independentes pode trazer vantagens significativas.
O mais importante é entender quais benefícios queremos e quais dificuldades aceitamos. Não é possível ter benefícios de multirepo com monorepo e vice-versa.
Como microsserviço presa por independência e autonomia, deveria ser absolutamente natural pensarmos que a priori cada microsserviço deveria ter seu próprio repositório.
Independente da abordagem, o sucesso na gerência de configuração exige processos bem definidos, ferramentas adequadas e uma cultura organizacional que priorize a qualidade e a colaboração.
Avalie seu contexto, implemente boas práticas e escolha a estratégia que melhor suporte os objetivos do seu sistema e da sua equipe.
No próximo post eu vou falar de workers, controllers e minimal API’s, juntar ou separar?
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